Cecor – Centro de Educação Comunitária Rural
Novembro

ASA 15 anos: Ampliando a resistência, fortalecendo a convivência!

ASA 15 anos: Ampliando a resistência, fortalecendo a convivência! | Imagem 1

 Por Monyse Ravena 

“Este ano a ASA está completando 15 anos. Há 15 anos que decidimos nos organizar em uma rede respeitando a diversidade das organizações da ASA porque naquela época nós amadurecemos a descoberta de que não adiantava mais a gente ficar pautando o governo isoladamente. E nosso debate foi ou nós nos articulávamos ao redor de bandeiras comuns, respeitando as bandeiras específicas de cada um e o jeito de ser de cada organização ou nós não daríamos passos significativos na convivência com o Semiárido. E foi isso que marcou a criação da ASA”, assim Naidison Quintela, coordenador executivo da ASA pelo estado da Bahia, sintetiza o contexto de surgimento da Articulação, no fim dos anos 1990, durante o evento de Planejamento do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), em Gravatá-PE, em março deste ano.

Nesse período, o olhar que a sociedade brasileira tinha da região era chão rachado, animais mortos e pessoas migrando. “Me lembro que mesmo com as nossas ações, em menor escala, através dos fundos rotativos solidários, de pequenos projetos comunitários, da cooperação internacional, era muito comum práticas clientelistas e coronelistas e um sentimento conformista de que a seca e a pobreza eram "vontade de Deus", descreve Agnaldo Rocha, da Cáritas Regional NE III, entidade que integra a ASA. Mas também nesse período, já havia se iniciado o debate em torno da convivência com o Semiárido e já se questionavam práticas como as queimadas, a derrubada da caatinga e, a partir das ações do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e do Movimento de Organização Comunitária (MOC), na Bahia; Centro de Assessoria e Apoio ao Trabalhadores e Instituições não Governamentais Alternativas (Caatinga), em Pernambuco; da Rede Cáritas e da Diaconia em alguns estados do Semiárido, por exemplo que contribuíam para desconstruir esse imaginário do semiárido como lugar apenas da pobreza. 

 Em 15 anos, a ASA contribuiu na mudança de vida das pessoas, na desconstrução de um imaginário perverso e na construção e visibilização de um Semiárido rico em vida, cultura, beleza e onde as pessoas podem ser felizes. Otília Balio, da Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa conta que no início dos anos 1990 começaram as discussões com as comunidades e, depois, os cursos e a construção das cisternas para a água de beber. “Precisei ir para São Paulo em dezembro de 2000 deixando aqui toda a discussão que havia nascido em 1999 a partir das experiências concretas que as organizações, como nós, vinham fazendo. Voltei à região em junho de 2005 – e quanta diferença! Não só a ASA estava consolidada e milhares de cisternas estavam construídas mas, principalmente, o brilho nos olhos e a fala das famílias tinham mudado. Talvez essas entidades que trabalhavam a convivência com o Semiárido antes de 1999 conseguissem alguma mudança no cenário local, mas a criação da ASA deu escala a essa transformação.”, conta.

Histórias de fortalecimento de uma rede que se constituiu a partir de um objetivo concreto: fazer uma revolução no Semiárido brasileiro a partir da democratização do acesso à água. Esse é o principal elemento a se comemorar nesses 15 anos, para Valquíria Lima, coordenadora executiva da ASA pelo estado de Minas Gerais. “São muitas histórias de homens e mulheres que resistem e transformam o Semiárido num lugar digno de se viver e de ser feliz. Comemorar as lutas e resistências desses povos que acreditam no Semiárido e na sua gente. Comemorar o crescimento de uma rede que cresceu, se multiplicou e incidiu politicamente na defesa da cidadania dos povos do Semiárido brasileiro”, completa Valquíria.

Hoje, a ASA é uma rede que congrega cerca de 3000 organizações em 10 estados brasileiros e está presente em mais de 1000 municípios. A partir de uma base social tão larga agrega também lutas diversas, assim como contradições e dificuldades impostas pelo atual modelo de desenvolvimento econômico vigente que devasta terra, água e os territórios tradicionais. Mas que traz o colorido também com uma diversidade cultural enorme, com sabores e saberes dos povos que inspiram e ensinam.

Conceição Mesquita, agricultora da comunidade de Urubu, município de Trairi, no Ceará, falando sobre sua participação em alguns momentos da história da ASA, como por exemplo, o Encontro de Agricultores e Agricultoras Experimentadores, em 2013, em Campina Grande, na Paraíba, afirma: “Pra mim é um orgulho muito grande participar desses momentos,  eu nunca pensei de estar lá, com todos aqueles doutores, mas também me sinto doutora porque eu sei que vocês também aprenderam um pouco com a minha experiência de agricultora”. Conceição também participou da construção da cartilha História de Quintais, feita a partir das histórias de mulheres do Semiárido.

Fazendo uma projeção dos desafios a serem enfrentados para os próximos períodos, Valquíria aponta alguns destaques: “Para além do que já temos feito, é necessário nesses 15 anos inovar, ampliar nossas ações do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) para que de fato aconteça a universalização do acesso à água de consumo humano, que o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) possa ser universalizado, que a ASA trabalhe na busca para que todas as escolas rurais do Semiárido brasileiro possam ter água e alimentação adequada a todas as crianças e que não precisem ser fechadas por falta de estrutura. São muitas ações ainda para serem conquistadas.”

Fonte: ASACOM http://asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_NOTICIA=8519


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