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08/11/2017

Maria dos Santos: Uma história de resistência, tradição e cultura popular






 

Moradora da Vila União, localizada na Comunidade Remanescente de Quilombo (CRQ) Conceição das Crioulas, a 42km de Salgueiro-PE, Maria dos Santos Oliveira, de 41 anos, é mãe de quatro filhos: Vítor José (19), Osmar Maycon (17), Matheus (13) e Kauan (10). Descendente de quilombolas, ela sempre viveu na localidade, que antes se chamava Lagoa da Pedra, onde tem suas raízes históricas, familiares e culturais.

Filha de uma artesã e um benzedor, Maria aprendeu desde cedo a valorizar a cultura e a tradição de seu povo. E para sustentar os filhos, produz artesanato e pomadas caseiras com ervas medicinais colhidas na Caatinga. Desde 2000, quando a comunidade recebeu o título quilombola, ela faz parte do Grupo Geração de Renda da Associação da Vila União, onde produz objetos de algodão, cerâmica e caroá, além de remédios caseiros. A produção do grupo é vendida na lojinha da comunidade, na Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) – que acontece todos os anos no Centro de Convenções, em Olinda-PE, distribuída para outros estados e chegou, inclusive, a ser exportada para países europeus.

“Artesanato é tradição, minha mãe já fazia, que aprendeu com minha vó, que aprendeu com a família dela. E as ervas também, quando morava com minha mãe ela fazia chás pra gente. Já o meu pai era benzedor, ensinava pra que servia cada erva e eu fui aprendendo”.

As plantas medicinais também fazem parte de sua vida desde a infância, quando aprendeu com os pais os nomes das ervas e sua serventia. Atualmente, seu quintal é coberto de ervas de várias espécies e nomes populares, como boldo, manjericão, capim santo, erva grossa, dipirona, quebra pedra, macela e aroeira. Em 2003 ela participou de um curso sobre plantas medicinais no Recife/PE, onde aprendeu a fazer pomadas cicatrizantes para vender, complementando a renda familiar.

“Meu filho tava com bronquite e ficou curado graças aos remédios caseiros, não precisei comprar na farmácia não”

Outra dedicação de Maria é o cultivo de hortas.  Mesmo enfrentando dificuldades nos últimos anos por causa da falta de água, ela não desiste de plantar verduras e legumes para alimentação da família. Em seu quintal tem pimentão, abóbora, mamão, acerola, pepino, fava e maxixe. E essa produção vai aumentar quando estiver pronta a cisterna calçadão de 52 mil litros de água que está sendo implementada em seu quintal pelo Centro de Educação Comunitária Rural – CECOR, com financiamento da Fundação Banco do Brasil – FBB/BNDES.

 “Essa cisterna é meu sonho, vou criar galinhas,  aumentar meus canteiros, plantar verduras, coentro, alface, e vou vender na Feira Agroecológica de Salgueiro”, diz ela entusiasmada.

 

HISTÓRIA DA COMUNIDADE

Segundo os moradores mais velhos, Conceição das Crioulas surgiu por volta de 1802, com a chegada de seis negras escravas que conquistaram a liberdade e arrendaram uma área de aproximadamente 3 léguas de terra (1 légua = 6 km) em quadra. Com a produção e fiação do algodão vendida na cidade de Flores-PE, elas conseguiram pagar a renda e obtiveram a escritura do território com o carimbo da Torre.

Ainda segundo a memória popular, a identidade e o nome da comunidade estão ligados à descendência das suas fundadoras e à imagem de Nossa Senhora da Conceição, trazida da guerra por um homem chamado Francisco José. Ao encontrar-se com as crioulas, tiveram a ideia de construir uma capela e tornar a santa sua padroeira. Surgindo daí o nome do povoado: Conceição das Crioulas.

A identidade de "remanescente dos quilombos" está relacionada à origem das crioulas e às relações de cooperação entre os sítios que formam a comunidade. A descendência de determinadas famílias tradicionais é sempre resgatada de forma a confirmar o pertencimento e a participação na história de Conceição das Crioulas.

Ao contrário de outras comunidades negras que ainda lutam pelo reconhecimento como "remanescente de quilombos", em Conceição não se utiliza elementos que reportem à condição de escravos. Sempre a imagem das crioulas lembra o poder da autonomia e a articulação entre os sítios, reforçando o sentido de unidade e sua capacidade política-organizativa.

Tudo isso torna o povo de Conceição ciente da sua condição e do seu papel na sociedade, trazendo comprometimento com a construção de um novo futuro para a comunidade quilombola.

Economia - Hoje, através de uma agricultura de subsistência, seus habitantes sobrevivem plantando milho, feijão, mandioca, jerimum e melancia. Há também pequenos criatórios de ovinos, caprinos, bovinos e suínos. Com o sucesso da ação voltada para a valorização e desenvolvimento do artesanato, alguns recursos naturais ganharam destaque, como o caroá e o barro.

AQCC - Fundada em 17 de julho de 2000, a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas é uma sociedade civil sem fins lucrativos, formada por várias associações de produtores e trabalhadores rurais provenientes dos diversos sítios que compõe o povoado. A associação nasceu da necessidade de intensificar a luta pelo bem comum e tem como objetivos o desenvolvimento da comunidade. (Fonte: Prefeitura de Salgueiro/PE)

 

POMADA CICATRIZANTE

Indicação: Dor e inflamações

Ingredientes: 100 gramas de folha de manjericão + 100 gramas de raspas de catingueira + faveleira + umbuzeiro + aroeira + ameixa + banha de carneiro.

Preparo: Fritar as folhas e a raspa no óleo vegetal com a banha de carneiro, depois misturar com parafina de vela (10 velas para 1 litro da mistura).

 

ERVAS MEDICINAIS

Quina-Quina

Indicação: Dor de cabeça

Modo de usar: Usar a raspa do tronco e misturar no café.

Quebra Pedra

Indicação: Inflamações e cálculo renal.

Modo de usar: Utilizar as folhas por decocção

Quantidade: 3 folhas para ½ de água.

Mastruz

Indicação: Infecção intestinal e problemas fígado.

Modo de usar: Cozinhar as folhas na água ou bater as folhas com leite no liquidificador.

Malva Santa

Indicação: Expectorante

Modo de usar: Infusão (lambedor ou chá)

 


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