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29/02/2016

Escola no Sertão do Araripe, em Pernambuco, constrói conhecimento a partir da convivência com o Semiárido








De uma área em processo de degradação, onde a Caatinga havia sido devastada por fazendeiros do município de Ouricuri, região do Sertão do Araripe, em Pernambuco, ergue-se a Agrovila Nova Esperança. Antes da mudança para a Agrovila, as vinte famílias foram expulsas de sua terra por conta da construção de uma barragem. Da força e resistência formaram uma comissão para lutar por uma indenização das casas, terras e até de cada planta do lugar.  Em 1986, foram morar de vez na Agrovila. 


Além das casas da Vila, uma escola também foi construída. A unidade de ensino trouxe o Semiárido para dentro da sala de aula, e levou os estudantes para fora das quatro paredes. A partir da prática da educação contextualizada a professora Izabel de Jesus Oliveira faz as crianças mergulharem no universo da Caatinga, conhecer a vegetação,  o solo, os tipos de plantas e até a plantar. “No começo foi muito difícil por que as pessoas usavam agrotóxicos e queimavam o solo. Os pais também diziam: essa professora vive no mato com os meninos. Como é que vão aprender a ler e a escrever? ”, conta a professora.

A Escola Maria do Socorro Rocha de Castro foi fundada no ano de 2004, a partir de um projeto multidisciplinar para trabalhar com crianças e adolescentes aulas de catecismo, incluindo práticas agroecológicas. “Fiz um intercâmbio para o MOC [Movimento de Organização Comunitária] e trouxe um projeto de leitura para a escola. Começamos com o projeto com livros em uma caixa de sapatos. E as crianças foram tendo o hábito da leitura e as famílias começaram a se envolver”, conta. A medida que o sonho tornava-se realidade, a escola tomava forma. Em 2005, estruturaram um roçado agroecológico e uma horta. O que é produzido vai para a merenda escolar e o excedente segue para as casas das famílias. 

A educação contextualizada vem aproximando escola e comunidade. A professora Izabel usa elementos da realidade local em suas práticas de ensino fortalecendo a convivência com o Semiárido do Araripe. “As crianças aprendem português, matemática, ciências e cidadania em experiências agroecológicas, fazendo gotejamento, regando plantas, retirando as folhas secas e fazendo curva de nível para evitar a erosão no terreno da escola”, explica a educadora. 

Pais e mães participam da rotina escolar. Um grupo de mulheres foi criado no ano de 2005. Hoje, as mães fazem multimisturas e beneficiamento do umbu fazendo polpas, doces e refrigerantes. A agricultora Fabiana tem dois filhos estudando na escola. Ela conta que hoje há um projeto no qual seis mães produzem mudas de plantas medicinais, frutíferas, nativas, exóticas, forrageiras e ornamentais para vender. A água para o plantio provém de cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas e de cisternas-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas da ASA. “Todas as famílias daqui tem a cisterna de beber. Praticamente não entra carro pipa aqui na comunidade”, disse agricultora. 

Desafios – Hoje a escola conta com 17 alunos de idade entre 3 e 11 anos, cursando do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Em anos eleitorais, com a mudança de gestão, a escola sempre sofre ameaças de ser fechada. Segundo a professora Izabel os programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) estão um pouco desativados na região, mas tempos atrás a escola já forneceu alimentação. A merenda escolar também sofre pela falta de um freezer para armazenar alimentos perecíveis. “Muitos pais e mães levam os alimentos para guardar em casa, em suas geladeiras, para não estragar e  garantir a qualidade da alimentação dos filhos e filhas. Mas eu sempre digo que essa escola não vai fechar. Ela é hoje uma referência nacional em educação contextualizada. Eu sou convidada para dar palestras e contar a nossa experiência em outros lugares. Então essa escola não fecha, nem que ela fique só para receber visitas”, fala a professora Izabel. 

Comunidade em torno da escola também vivencia a agroecologia – No quintal de casa, o agricultor José Nilton Souza Oliveira mantém um Sistema Agroflorestal (SAF). “Aqui a gente compartilha saberes com os estudantes e com a própria comunidade que hoje produz alimentos sem agrotóxicos”. São 49 famílias que acreditam na agroecologia e nos cuidados com o solo, informou Nilton. A diversidade de plantas em seu quintal inclui as nativas, frutíferas, alternativas e medicinais.  

A visita à comunidade aconteceu como parte da programação da Caravana Agroecológica e Cultural do Araripe, realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em parceria com a ONG Caatinga, Rede Ater Nordeste, Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e Instituto Nacional do Semiárido (INSA).

 


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